sábado, 19 de novembro de 2011

Neurociência do Comportamento.


 Você sabia que as nossas relações interferem na dinâmica cerebral? Confira um trecho do livro "Inteligência Social", de Daniel Goleman, que mostra como as pesquisas se iniciaram em torno do conceito de neurociência cerebral.
Ao pesquisar as origens do termo “neurociência social”, o uso mais antigo que encontrei remontava da década de 1990, pelos psicólogos John Cacioppo e Gary Bernstson, na época os únicos profetas dessa corajosa nova ciência. Recentemente, ao falar com Cacioppo, ele recordou: “Havia uma grande dose de ceticismo entre os neurocientistas sobre o estudo de qualquer coisa que estivesse fora do crânio. A neurociência do século 20 acreditava que o comportamento social era simplesmente complexo demais para ser estudado.”
“Hoje”, acrescenta Cacioppo, “podemos começar a entender como o cérebro administra o comportamento social e, por sua vez, como nosso mundo social influencia o cérebro e nossa biologia”. Atualmente diretor do Center for Cognitive and Social Neuroscience da Universidade de Chicago, Cacioppo testemunhou uma enorme mudança: o campo se tornou um tópico científico de grande interesse para o século 21.
Este novo campo já começou a resolver antigos quebra-cabeças científicos. Por exemplo, parte das pesquisas iniciais de Cacioppo revela ligações entre o envolvimento em um relacionamento problemático e elevações dos hormônios de estresse a níveis que danificam os genes responsáveis pelo controle das células que combatem os vírus. Uma peça que faltava nessa engrenagem dizia respeito aos caminhos neurais que poderiam transformar problemas de relacionamento em tais consequências biológicas – um dos focos da neurociência social.
Uma parceria emblemática para pesquisas nesse novo campo se dá entre psicólogos e neurocientistas para a utilização de equipamentos de ressonância magnética funcional (RMf) que, antes, eram normalmente utilizados para diagnósticos clínicos no contexto hospitalar. A ressonância magnética funcional utiliza poderosos ímãs para gerar um retrato impressionantemente detalhado do cérebro. A ressonância magnética funcional agrega enorme capacidade de computação, gerando o equivalente a um vídeo que mostra partes do cérebro se ativando durante alguns momentos, como, por exemplo, quando se ouve a voz de um velho amigo. A partir desses estudos, surgem respostas para as seguintes perguntas: O que acontece no cérebro de uma pessoa ao olhar o ser amado ou no cérebro de uma pessoa intolerante ou, ainda, de uma pessoa que tenta desenvolver uma estratégia para ganhar um jogo?
O cérebro social é a soma dos mecanismos neurais que orquestram nossas interações, bem como nossos pensamentos e sentimentos a respeito das pessoas e dos relacionamentos. A notícia mais reveladora aqui pode ser que o cérebro social representa o único sistema biológico de nosso organismo que nos sintoniza continuamente com o estado interno das pessoas com as quais convivemos e, por sua vez, se é influenciado por ele.
Todos os outros sistemas biológicos, dos gânglios linfáticos ao baço, regulam sua atividade como reação aos sinais que surgem de dentro do corpo, não de fora. Os caminhos adotados pelo cérebro social são únicos em sua sensibilidade ao mundo como um todo. Sempre que ocorre uma conexão face a face (ou voz a voz, ou pele com pele) com outra pessoa, nossos cérebros sociais se entrosam.
Nossas interações sociais chegam a moldar o cérebro por meio da “neuroplasticidade”, o que significa que experiências repetidas esculpem a forma, o tamanho e o número de neurônios e suas ligações sinápticas. Direcionando repetidamente o cérebroa em um determinado registro, nossos principais relacionamentos podem, aos poucos, moldar certos circuitos neurais. De fato, mágoas crônicas ou relacionamentos positivos com pessoas com as quais nos relacionamos diariamente ao longo dos anos podem moldar nosso cérebro. Essas novas descobertas revelam que nossos relacionamentos têm um impacto sutil, porém poderoso e duradouro, sobre nós. Tal notícia pode ser inoportuna para pessoas com relacionamentos negativos. Mas a descoberta também aponta para as possibilidades reparadoras de nossas conexões pessoais em algum momento da vida.
Portanto, as formas como estabelecemos nossas conexões com os outros têm um significado inimaginável. Isso nos leva a imaginar o que significaria, com base nesses novos insights, ser inteligente com relação ao mundo social.
Fonte: http://www.triada.com.br/

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